
Baseado numa histórica verídica, 12 anos de escravidão, foi o filme que hoje me levou à sala de cinema, no 1º fim de semana deste ano. O meu 1º filme do ano, marcante, na plena consciência que aquela era uma história real, sobre um dos períodos mais vergonhoso da História dos Estados Unidos: A Escravidão Negra (do séc XVII ao Séc. XIX). A lei definitiva acerca da discriminação só veio em 1964!
Ao pesquisar uma foto na net para enquadrar o post que me propunha escrever, encontrei esta critica de Roni Nunes . Após lê-la fiquei sem palavras para acrescentar algo mais. Expressa a essência e enfoque da obra de Steve McQueen, fiel representação da escravatura, uma das maiores atrocidades que o ser humano infligiu ao seu semelhante. A perda de liberdade, de identidade, de privacidade, de dignidade e as consequências psicológicas desta violência no ser humano. Na cena das chicotadas fechei os olhos porque o coração sente mas o olhar não suporta a crueza da realidade.
Na ausência de palavras, passo a transcrever:
Na ausência de palavras, passo a transcrever:
"Nunca a escravatura terá sido objeto de um esforço tão metódico em reproduzir com tamanha secura a sua brutalidade intrínseca. Sob esse prisma, não admira que esta obra de Steve McQueen, que já se havia dedicado a um processo intimista de decadência com Vergonha, esteja a causar impacte nos Estados Unidos. A violência psicológica alcançada aqui faz o gore fanfarrão de Tarantino (Django Libertado) parecer uma brincadeira.
Solomon (Chiwetel Ejiofor) é um homem livre com família que, quase sem dar por isso, é raptado da Nova Iorque liberal e atirado para o sul esclavagista, onde vai testemunhar e sofrer todo o tipo de atrocidades. E aqui McQueen não poupa na ementa: para além dos espancamentos recorrentes e das torturas físicas, a preocupação do cineasta desdobra-se num cuidado quase sádico (não fosse uma interpretação verossímil da realidade) no sentido de reproduzir na sua essência as consequências psicológicas de um ser humano reduzido à uma mercadoria. Para além de filhos separados das mães por razões comerciais, os negros também estão desprovidos de qualquer direito à identidade, à privacidade, ao pudor e até mesmo ao luto dos entes queridos.
Um dos aspetos notórios é que, após os primeiros minutos, quando o plano da hélice de um barco simboliza a entrada de Solomon na tempestade, até os minutos de resolução do conflito, não há uma curva ascendente/descendente de tensão: 12 Anos Escravo decorre em frente ao espectador como se fosse um longo travelling lateral, onde a crueldade inerente ao quotidiano de uma casa senhorial do século XIX sulista é descrito de forma impiedosa em toda a sua ausência de compaixão ("a minha compaixão cabe na face de uma moeda", diz uma personagem). Essa dimensão de sufoco, onde não são concedidas saídas a personagens entregues à própria sorte, é acrescida pela ausência de situação da história no tempo, entregando o espectador à sensação de um longo pesadelo sem fim à vista.
Em termos de realismo, o mérito do esforço de McQueen é inegável, concedendo um retrato de tal forma incisivo que serve bem para lembrar aos racistas modernos o verdadeiro significado do etnocentrismo. Por outro lado, a excessiva linearidade do relato torna-o próximo do requinte de morbidez da arthouse do qual o cineasta de Vergonha parece tributário – como demonstra uma longa cena de espancamento com pormenores "à Paixão de Cristo" que o realizador espeta no espectador depois de duas horas de tormentos. Na sua conclusão, fica a braços com um final cuja natureza emocional seria muito difícil de resgatar – o que acaba por tentar sem grande imaginação.
Solomon (Chiwetel Ejiofor) é um homem livre com família que, quase sem dar por isso, é raptado da Nova Iorque liberal e atirado para o sul esclavagista, onde vai testemunhar e sofrer todo o tipo de atrocidades. E aqui McQueen não poupa na ementa: para além dos espancamentos recorrentes e das torturas físicas, a preocupação do cineasta desdobra-se num cuidado quase sádico (não fosse uma interpretação verossímil da realidade) no sentido de reproduzir na sua essência as consequências psicológicas de um ser humano reduzido à uma mercadoria. Para além de filhos separados das mães por razões comerciais, os negros também estão desprovidos de qualquer direito à identidade, à privacidade, ao pudor e até mesmo ao luto dos entes queridos.
Um dos aspetos notórios é que, após os primeiros minutos, quando o plano da hélice de um barco simboliza a entrada de Solomon na tempestade, até os minutos de resolução do conflito, não há uma curva ascendente/descendente de tensão: 12 Anos Escravo decorre em frente ao espectador como se fosse um longo travelling lateral, onde a crueldade inerente ao quotidiano de uma casa senhorial do século XIX sulista é descrito de forma impiedosa em toda a sua ausência de compaixão ("a minha compaixão cabe na face de uma moeda", diz uma personagem). Essa dimensão de sufoco, onde não são concedidas saídas a personagens entregues à própria sorte, é acrescida pela ausência de situação da história no tempo, entregando o espectador à sensação de um longo pesadelo sem fim à vista.
Em termos de realismo, o mérito do esforço de McQueen é inegável, concedendo um retrato de tal forma incisivo que serve bem para lembrar aos racistas modernos o verdadeiro significado do etnocentrismo. Por outro lado, a excessiva linearidade do relato torna-o próximo do requinte de morbidez da arthouse do qual o cineasta de Vergonha parece tributário – como demonstra uma longa cena de espancamento com pormenores "à Paixão de Cristo" que o realizador espeta no espectador depois de duas horas de tormentos. Na sua conclusão, fica a braços com um final cuja natureza emocional seria muito difícil de resgatar – o que acaba por tentar sem grande imaginação.
O Melhor: uma recriação bastante verossímil de um estado de submissão escrava
O Pior: a excessiva linearidade do quadro, que torna o filme por vezes arrastado."
Fonte : http://www.c7nema.net
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