Apareceu por aí timidamente no já longínquo ano de 1987 e pé ante pé, foi entrando no coração dos portugueses, que lhe escancaram as portas do coração e o guardaram nesse cantinho especial onde mora a solidariedade. Talvez fosse a antena que trazia sobre um corpo peludo e colorido que ajudasse a construir essa sintonia. Ou talvez fossem aqueles olhos grandes que pareciam pedir a nossa atenção e a nossa ajuda. E foram também, de certeza, as muitas vozes e caras conhecidas que, desde a primeira hora, adoptaram como seu esse boneco simpático, que trazia nome de bicharoco brilhante, com promessas de fazer de gestos simples autênticos passes de magia.
Eles eram cantores, políticos, artistas plásticos, escritores, locutores da rádio e televisão, actores jornalistas, enfim, pessoas de todos os quadrantes da sociedade portuguesa que quiseram emprestar o seu prestígio na consolidação da credibilidade de uma iniciativa que sabiam ser genuinamente solidária. E essa ideia simpática e pequenina, lançada a partir de um programa de rádio onde se conversava sobre a realidade das pessoas com deficiência intelectual, dos problemas que viviam as suas famílias, muitas vezes privadas de direitos básicos de cidadania, e as dificuldades com que se debatiam as organizações, foi crescendo, crescendo, até se transformar numa iniciativa que, pela dimensão e alcance que assumiu, é única a nível nacional e, porventura, europeu.
Neste tempo, muitas foram as coisas que mudaram, umas fruto de um melhor conhecimento das realidades ligadas à deficiência intelectual, outras simplesmente porque o mundo e a vida não param. E, acreditem, este bonequinho despretensioso que todos os anos nos visita por alturas do mês do coração, tem muito a ver com isso. Hoje, as pessoas com deficiência intelectual são vistas com mais dignidade, têm mais oportunidades de apoio, têm mais acesso à cidadania… Mas também é verdade que subsistem muitos problemas e que, entretanto, outros vão sendo criados, fruto de uma sociedade que, em nome da modernidade e da competitividade, parece ter cada vez menos tempo para cultivar a solidariedade como uma referência de atitude cidadã e de mudança de atitudes, ferramentas indispensáveis à construção de uma sociedade cada vez mais justa e inclusiva. E para que tal aconteça, continuamos a precisar desse toque de magia que o tal bicharoco de olhos e pés grandes e antena no ar nos traz anualmente. Ah! Esqueci-me de o apresentar. É o Pirilampo Mágico, como deviam já ter percebido!
Este Ano o lema da campanha "Por Uma Ideia Solidária de Futuro" remete-nos para as questões dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Não basta reconhecer Direitos, não basta disponibilizar apoios, não basta subscrever convenções...
É preciso consolidar a ideia de que a solidariedade será tanto mais válida e eficaz, quanto maior for o alcance futuro das mudanças que promove, medidas no bem-estar, qualidade de vida e exercício pleno de direitos por parte da pessoa com deficiência e sua família.
É preciso que as Pessoas com Deficiência possam afirmar o seu Direito à Igualdade de Oportunidades e o exercício da Cidadania plena!
Comentários