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A VISITA DA VELHA SENHORA

 Uma cidade arruinada espera a visita da mulher mais rica do mundo. Para os habitantes todas as esperanças se concentram na possibilidade de um resgate que refinancie a economia local e permita à cidade viver o conforto e a opulência que já conheceu. A visita parece correr bem, tudo parece apontar para que o resgate aconteça. Porém o preço a pagar é demasiado elevado e há-de faturar a sociedade local!

Esta história é-lhe familiar???

Pois a mim suscitou-me curiosidade!  Em que medida uma peça, escrita em 1956, por Friedrich Durrenmatt, dramaturgo suíço de língua alemã, poderia permanecer tão atual!???  Fui ver! Teatro São Luíz , 21h. 

Nesta comédia trágica, só as duas personagens principais possuem nome: Alfred Ill e Clara Zachanassian. Todos os outros são tipos (o professor, o médico, o padre, o polícia) ou têm alcunhas absurdas (Roby, Loby, Koby, etc).

Maria João Luís interpreta magnificamente  Clara Zachanassian*, Clarinha, a menina de tranças ruivas que, desprezada,  saiu da cidade a chorar e grávida. Através do sexo apodera-se da grande fortuna e 45 anos depois,  Velha Senhora a mulher mais rica do mundo regressa à cidade falida, (Gullen). Entre a pobreza e o crédito fácil o enredo adensa-se!

Na  voz poderosa e vingativa da Velha Senhora sentimos o poder do capitalismo, da crueldade e toda a rede invisível de uma superestrutura económica que nos prende.

Exatamente 56 anos depois, seria difícil encontrar um texto que nos devolvesse com maior precisão a confusão ética e politica em que o estado de necessidade financeira lança uma comunidade que sempre aparentou reger-se por valores sólidos.

Não sendo uma analogia total, é uma metáfora sobre a situação atual de Portugal e os últimos anos de democracia.

Não vou desvendar a história! é preciso ir ver!


Nós fomos e Adorámos! À saída do teatro e durante o percurso que fizemos até encontrar um local agradável para matar a fome, ficou a pairar a pergunta :

Quem é efetivamente nesta atualidade a Velha Senhora?




* O nome Zachanassian resulta de uma mistura entre Zacharias, Onassis e Gulbenkian, três figuras do capitalismo da época. Zacharias Zaharoff era traficante de armas, Onassis, o grande armador grego e Gulbenkian, o barão do petróleo. 




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